sexta-feira, 21 de junho de 2013

Tanto tempo depois...

...e nada mudou. Infelizmente, o ano de 2013 vai ficar marcado como um dos anos em que devo ter ido a mais funerais.

Mais uma pessoa especial nos deixou. Uma vizinha, que quando perdi a minha mãe, assumiu um pouco a figura feminina na minha vida. Foram sempre ela e a filha que traziam um pouco de feminilidade aos meus dias. A E. (a filha) andava sempre a maquilhar-me, a pentear-me... eu era a bonequita dela. Sempre fiz, praticamente, parte da família. Comia em casa deles, eles iam buscar-me à escola, encadernavam-me os livros, a minha vizinha é que fazia sempre as mousses de chocolate para as minhas festas (a minha mãe e o meu pai eram bons a fazer sopa de chocolate...não mousse), eu viajava com eles como se fosse a neta, ia à praia... sempre nos trouxe queijos e bolos da Idanha, nós trazíamos sempre azeitonas, chouriços e queijos da Amareleja... Até mesmo açúcar e café para os meus avós, eles enviavam. Mais do que vizinhos, sempre foram família. E perdê-la assim, tão nova e sem ter tido possibilidade de me despedir é simplesmente deprimente... a última vez que estive com ela, ela estava já doente, mas nunca pensei que não recuperasse. O cancro é simplesmente horrível, e tira-nos as melhores pessoas, quando menos esperamos.

Fico sempre, ligeiramente dormente, quando recebo estas noticias. As pessoas dão-me a noticia, e não sei porquê o meu cérebro não assimila logo as coisas. Fiquei tão dormente, que a ficha caiu-me só quando estava já no trabalho, por detrás do balcão e nesse momento desatei a chorar. Tive que fugir e felizmente nenhum cliente me viu. Ainda demorei bastante a recompor-me, tanto que o meu querido colega F. até me disse que fazia o meu turno e para eu ir para casa. Foi graças a ele que me segurei. Nunca na vida poderia deixar aquele pobre rapaz, sempre pronto a ajudar, sempre pronto a dar um ombro amigo, a fazer sei lá quantas horas só para eu ir para casa recompor-me. Por eu ser fraca. Por isso segurei-me. Consegui recolher forças. Já sei toda a "programação" e sei que quando estas coisas acontecem, primeiro que tudo há que manter a cabeça e o corpo ocupado. O meu grande erro com a minha mãe e o meu avô, foi não ocupar a cabeça. Foi isso que me deitou abaixo. Ficar só a lembrar-me deles, ver as fotos, ouvir as gravações... deita-me abaixo e põe-me num estado depressivo tal, que nem comer como. EU! Eu deixo de comer, quando entro nessas fases. Infelizmente, a vida já me demonstrou o que fazer quando acontecem coisas destas... já tenho experiência demais... há que ir trabalhar e estudar para mantermos a cabeça ocupada, há que correr ou fazer qualquer outro exercício físico extenuante que nos deixe sem forças para pensar, e fazê-lo sempre até ao momento em que finalmente conseguimos pensar na pessoa que perdemos, e não desatar a chorar à frente de todos. Até ao momento em que conseguimos pensar na pessoa, e em vez de lágrimas nos olhos, temos um sorriso afectuoso nos lábios. Até ao momento em que aceitamos que não mais os poderemos ver, e que por mais que possamos chorar e gritar e por mais que nos afastemos de todas as outras pessoas, isso não servirá de nada a não ser ficarmos mais deprimidos.

Se começo a ir abaixo com tantos funerais? Sim. Começo. Até as minhas "pinturas" (chame-mos-lhe assim) começam a ser deprimentes a mais - até para mim. Mas não posso deixar ir-me abaixo, quando apesar de tudo isso, ainda me sinto abençoada. Ainda me sinto abençoada com as pessoas que ainda me rodeiam. Com a saúde que temos. Infelizmente, ninguém escapa à morte. Nem mesmo nós. E por isso, há que aproveitar a vida enquanto podemos, homenageando as pessoas queridas enquanto podemos e a melhor homenagem que podemos fazer é viver. Isto tudo é muito bonito, dito assim, hoje, quando já não me dói o peito só de respirar. Mas há dias bons e dias maus. Graças a Deus, ultimamente tenho tido dias menos maus.

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